Comunicados do Movimento Idanha Viva

14 fevereiro 2023 – COMUNICADO DE IMPRENSA

Movimento é um colectivo de actuais e futuros residentes no concelho de Idanha-a-Nova, originários de vários cantos do mundo e também de Portugal, e que cresce todos os anos. No início de 2021 já incluía cerca de 70 agregados familiares (sendo de 27 o número de crianças), num total de 190 hectares de terra adquirida, que implicaram um investimento total de 1.635.200€ (entre aquisição de terras e reabilitação) e cujas despesas de subsistência anuais conjuntas perfazem 439.300€. Desde 2021 este número tem aumentado todos os anos e mais famílias chegam e partilham a nossa enorme preocupação com o impacto negativo que a construção do IC31 terá sobre a natureza, a qualidade de vida, o património e o futuro económico desta região.

Foi com profunda consternação que os elementos do Movimento Idanha Viva tomaram conhecimento, através da comunicação social, do facto de o governo recuar na decisão anteriormente tomada (ver Infraestruturas de Portugal e Reconquista) e assumir agora a construção do IC31 em perfil de autoestrada. O IC31, em nome de um modelo ultrapassado de progresso, é anunciado como uma forma de ligar e abrir o território, tornando-o mais permeável. Em oposição a esta perspectiva, é convicção do Movimento Idanha Viva que a construcção de uma via com semelhante porte e características apenas servirá para rasgar o concelho de Idanha-a-Nova, um dos poucos em Portugal que não é fragmentado por grandes vias rodoviárias e que, também por essa razão, é único na sua riqueza natural, cultural e patrimonial.

O enorme potencial para o ecoturismo sustentável (observação de vida selvagem, birdwatching, observação do céu nocturno, turismo arqueológico e histórico), até pela presença de Monsanto e Idanha-a-Velha, duas das 12 Aldeias Históricas de Portugal, as únicas em Idanha-a-Nova, está agora ameaçado. A construção daquela via irá contribuir para a delapidação do espaço natural, ao destruir e fragmentar a ecologia da região, levando ao desaparecimento de inúmeras espécies de fauna e flora de incalculável valor, incluindo espécies protegidas e em perigo, como o lobo ibérico (Canis lupus signatus) e o lince ibérico (Lynx pardinus), grandes áreas de florestas e habitats protegidos e prioritários de conservação, como os carvalhais de carvalho das beiras (Quercus pyrenaica), sobreirais e azinhais, galerias ripícolas entre outros.

O Movimento Idanha Viva reconhece, através dos seus próprios inquéritos, que uma parte da população local – que ouve falar da construção de uma nova via há décadas – acredita que a construção do IC31 será positiva para o município. Num país rasgado por autoestradas e ICs, onde durante anos foi promovida a ideia de que o crescimento económico e a prosperidade local estão directamente relacionados com a construção rodoviária, esta falsa promessa ainda encontra acolhimento junto de uma fatia da população. A construção do IC31 não vai melhorar o acesso a serviços (incluindo os de saúde), e diminuirá em apenas alguns minutos o trajecto até às cidades de Castelo Branco e de Lisboa. Tampouco irá melhorar as perspectivas económicas locais. Pelo contrário, Idanha poderá vir a juntar-se a outras áreas que foram sacrificadas para projetos de infraestruturas de grande escala (e.g. linhas de alta tensão no Parque Nacional do Gerês e Sortelha). Uma nova infraestrutura rodoviária corre o sério risco de prejudicar a economia local, tal como aconteceu com a construção da A2 no Algarve (que “matou” Canal Caveira e Mimosa, apesar de – na altura – o Governo asseverar que continuariam a receber tráfego) e a da A23 (ao lado da qual a aldeia histórica de Castelo Novo e a cidade da Guarda agonizam) e de contribuir ainda mais para a já tão acentuada desertificação na região.

O Movimento Idanha Viva já publicou as suas “31 ideias em vez do IC31”, essas sim, sugestões capazes de trazer novo fôlego à economia local e captar residentes e visitantes. Estas 31 ideias foram publicadas no jornal MAPA em julho de 2022. Também uma petição do Movimento Idanha Viva conta já com 910 assinaturas, pelo que a afirmação de que “todos estão a favor do IC31” é falsa.


Queremos também assinalar que o Movimento Idanha Viva dinamizou uma sondagem na Rádio Monsanto, que claramente mostrar que o público (89.3% dos 33976 respondentes) é totalmente contra um projeto IC31 sem uma avaliação de impacto ambiental. É então totalmente inaceitável evocar a “Simplex Ambiental” para fugir a um estudo independente sobre a profundidade do impacto do IC31.


Para finalizar, o Movimento Idanha Viva quer deixar uma nota de escontentamento pelo facto de não ter sido informado sobre esta intenção de mudança no perfil do IC31, após nos ter sido afirmado que seríamos informados e consultados como órgão da sociedade civil. Mesmo depois de termos enviado a nosso Manifesto aos presidentes de Câmara e Juntas de Freguesias de Idanha-a-Nova em Dezembro de 2020; depois de nos reunirmos com representantes da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova no dia 9 de abril 2021; depois de entregarmos o nosso Manifesto à Ministra da Coesão Territorial no dia 17 de Maio de 2021; depois de termos sido referidos em órgãos de comunicação social, e de termos visto publicada uma carta aberta nossa, em Dezembro 2021; e depois de termos enviado um pedido oficial de informação à Infraestruturas de Portugal, sobre a fase do concurso público, a proposta de traçado e o estudo de impacte ambiental, no dia 31 de março 2022. Depois de tudo isto as decisões continuam a ser tomadas à porta fechada.

– Movimento Idanha Viva